A Operação Just Cause, conduzida pelos Estados Unidos em 1989, foi uma intervenção militar que resultou na queda do ditador panamenho Manuel Noriega.
Este artigo exclusivo do Portal Pátria e Defesa, analisa os detalhes dessa operação, os motivos por trás dela, a escolha de seu nome e as razões que levaram os EUA a agir.
Além disso, explora se um cenário semelhante poderia ocorrer com Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, considerando o aumento da recompensa por sua captura e o envio de militares e equipamentos para a América Latina no combate ao narcotráfico.
1. Quando e Como Noriega Caiu
- Data da Queda: Manuel Noriega foi deposto em 20 de dezembro de 1989, com o início da Operação Just Cause, e se rendeu em 3 de janeiro de 1990, após se refugiar na nunciatura apostólica (embaixada do Vaticano) em Cidade do Panamá.
- Contexto da Operação: A invasão começou com um ataque militar coordenado envolvendo cerca de 27.000 soldados americanos, que rapidamente superaram as Forças de Defesa do Panamá (PDF). Noriega foi capturado, levado aos EUA, julgado e condenado por tráfico de drogas e outros crimes, sendo sentenciado a 40 anos de prisão.
- Desfecho Imediato: Após a invasão, Guillermo Endara, que havia vencido as eleições de 1989 anuladas por Noriega, foi empossado como presidente, marcando o fim do regime ditatorial.
2. Por Que Noriega Caiu
- Acusações de Narcotráfico: Noriega, inicialmente um aliado dos EUA e informante da CIA, foi acusado de facilitar o tráfico de drogas para os Estados Unidos e de lavagem de dinheiro. Em 1988, foi indiciado por tribunais americanos por essas atividades.
- Crise Política: Em maio de 1989, Noriega anulou as eleições presidenciais panamenhas, que indicavam a vitória de Guillermo Endara, e reprimiu violentamente a oposição, aumentando a instabilidade no país.
- Agressões contra Americanos: Um evento crítico foi o assassinato de um fuzileiro naval americano, Robert Paz, em um bloqueio da PDF, em dezembro de 1989. Além disso, um oficial da Marinha dos EUA e sua esposa foram detidos e agredidos, intensificando as tensões.
- Declaração de Guerra: Em 15 de dezembro de 1989, Noriega declarou estado de guerra contra os EUA, aumentando a percepção de ameaça à segurança dos cerca de 35.000 cidadãos americanos no Panamá e aos interesses estratégicos, como o Canal do Panamá.
3. Por Que o Nome “Just Cause”
- Justificativa Ideológica: O nome “Operação Just Cause” (Causa Justa) foi escolhido para refletir os objetivos declarados pelos EUA: proteger cidadãos americanos, restaurar a democracia no Panamá, combater o narcotráfico e garantir a segurança do Canal do Panamá.
- Legitimação Pública: O termo buscava transmitir a ideia de uma intervenção moralmente justificada, contrastando com a imagem de Noriega como um ditador corrupto e traficante de drogas. A escolha do nome também visava angariar apoio doméstico e internacional, embora a operação tenha sido criticada por organizações como a ONU e a OEA por violar o direito internacional.
4. Por Que os Estados Unidos Decidiram Fazer a Operação
- Interesses Estratégicos: O Panamá era crucial para os EUA devido ao Canal do Panamá, vital para o comércio global e sob administração americana até 1999, conforme o Tratado Torrijos-Carter de 1977. A instabilidade causada por Noriega ameaçava esses interesses.
- Combate ao Narcotráfico: Durante a administração Reagan e Bush, a “Guerra às Drogas” era uma prioridade. As acusações contra Noriega, que incluíam facilitar o tráfico de cocaína para os EUA, tornaram-no um alvo prioritário.
- Pressão Política Interna: A relação próxima de Noriega com os EUA, especialmente durante o período em que Bush foi diretor da CIA (1976-1977), gerou críticas à administração Bush durante a campanha presidencial de 1988. A intervenção foi uma forma de demonstrar ação decisiva contra um ex-aliado que se tornara um problema.
- Incidentes com Americanos: O assassinato do fuzileiro Robert Paz e outros incidentes com cidadãos americanos forneceram uma justificativa imediata para a ação militar, apresentada como necessária para proteger vidas americanas.
- Falhas nas Negociações: Tentativas de negociar a renúncia de Noriega, iniciadas na administração Reagan, falharam. Após o fracasso de um golpe contra Noriega em outubro de 1989 e sua declaração de guerra, Bush optou por uma solução militar.
5. Correlação com Nicolás Maduro
- Paralelos com Noriega:
- Acusações de Narcotráfico: Assim como Noriega, Maduro foi acusado pelos EUA de envolvimento com o narcotráfico. Em 2020, o Departamento de Justiça dos EUA ofereceu uma recompensa inicial de US$ 15 milhões por informações que levassem à sua captura, aumentada para US$ 50 milhões em 2025, indicando uma escalada na pressão americana.
- Regime Autoritário: Maduro mantém o poder na Venezuela por meios considerados antidemocráticos, incluindo a repressão de opositores e a manipulação de eleições, semelhante à anulação eleitoral de Noriega em 1989.
- Tensões com os EUA: A relação entre os EUA e Maduro é marcada por hostilidades, com sanções econômicas, designação de Maduro como líder de uma organização terrorista e críticas à sua legitimidade, ecoando o deterioramento das relações com Noriega na década de 1980.
- Presença Militar Americana: Recentemente, os EUA intensificaram operações antidrogas na América Latina, incluindo o envio de forças especiais e equipamentos militares para combater cartéis, com foco em redes que operam na Venezuela. Isso lembra os preparativos para a Operação Just Cause, que envolveu o reforço de tropas na Zona do Canal antes da invasão.
- Diferenças e Obstáculos:
- Contexto Geopolítico: Diferentemente do Panamá em 1989, a Venezuela tem aliados regionais e internacionais, como Rússia, China e Cuba, que poderiam complicar uma intervenção militar americana.
- Escala da Operação: O Panamá era um país pequeno com uma força militar limitada (16.000 soldados da PDF). A Venezuela, embora enfraquecida economicamente, possui forças armadas maiores e milícias leais ao regime, o que tornaria uma operação militar mais complexa e arriscada.
- Repercussões Regionais: A invasão do Panamá foi amplamente condenada por países latino-americanos e pela ONU. Uma ação semelhante contra Maduro poderia gerar ainda mais resistência na região, especialmente em um contexto de crescente antiamericanismo.
- Justificativas Limitadas: Enquanto a morte de um fuzileiro naval foi um gatilho claro para a Operação Just Cause, não há, até o momento, um incidente comparável envolvendo cidadãos americanos na Venezuela que justifique uma intervenção direta.
- Cenário Atual (2025): A recente designação de Maduro como líder de uma organização terrorista global e o aumento da recompensa para US$ 50 milhões (o dobro do valor oferecido por Osama bin Laden) indicam uma intensificação da pressão dos EUA. A presença de forças especiais americanas na América Latina, sob o pretexto de combater o narcotráfico, sugere que os EUA estão construindo uma narrativa para justificar ações futuras. No entanto, uma intervenção militar direta contra Maduro parece improvável no curto prazo devido aos custos políticos, logísticos e diplomáticos. Alternativas como sanções, apoio a golpes internos ou pressão diplomática são mais prováveis, seguindo o modelo tentado com Noriega antes de 1989.
