Nos últimos dias, o espaço aéreo do Báltico tem sido palco de uma crescente tensão que reflete a ousadia renovada da Rússia em desafiar a soberania dos países membros da OTAN. Os últimos acontecimentos, trazem à tona uma série de incidentes que evidenciam um padrão preocupante de provocações aéreas por parte de Moscou, colocando em risco não apenas a segurança regional, mas também a estabilidade global.

O primeiro alerta veio com a informação de que três interceptadores russos MiG-31 invadiram o espaço aéreo da Estônia, um ato descrito como “inaceitavelmente brutal” pelas autoridades locais. Esses caças, equipados com mísseis hipersônicos Kinzhal, circularam por cerca de 12 minutos sobre o Golfo da Finlândia antes de serem repelidos por caças italianos F-35 da missão de policiamento aéreo da OTAN. Paralelamente, um avião de inteligência IL-20M foi avistado sobrevoando o espaço aéreo báltico sem plano de voo ou transponder ligado, uma manobra que, embora não tenha cruzado a fronteira da aliança, exigiu a decolagem de caças da OTAN para monitoramento. Essas ações, registradas em imagens que mostram o IL-20M cortando os céus com sua silhueta inconfundível, reforçam a percepção de que a Rússia está testando os limites da resposta ocidental.

A escalada não parou por aí. Horas depois, novas postagens indicaram que a Rússia intensificou suas operações, com caças Su-27 e Su-35 realizando voos provocativos próximos à fronteira da Lituânia, enquanto um segundo IL-20M foi detectado operando a poucos quilômetros da Letônia. Esses movimentos, combinados com a ausência de comunicação formal e o uso de táticas que desrespeitam normas internacionais de aviação, sugerem uma estratégia deliberada de intimidação. O ministro da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, classificou os incidentes como “uma escalada significativa”, enquanto a OTAN reforçou sua presença na região com mais aeronaves e navios, sinalizando uma resposta coordenada.

O contexto regional agrava a situação. A Estônia, que já registrou quatro violações de seu espaço aéreo neste ano, vive sob constante pressão devido à proximidade com a Rússia e à memória da ocupação soviética. A Lituânia e a Letônia, igualmente vulneráveis, enfrentam uma retórica hostil de Moscou, que acusa os países bálticos de abrigar “ameaças” à segurança russa. Paralelamente, a presença de um IL-20M equipado para coleta de dados de inteligência levanta suspeitas de que a Rússia esteja mapeando defesas da OTAN, um passo que poderia preceder ações mais agressivas.

Esses acontecimentos não ocorrem isoladamente. Eles se somam a recentes incursões russas com drones em territórios de Polônia e Romênia, além de tensões crescentes com a Finlândia, outro vizinho nórdico da Rússia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy já alertou que Moscou está expandindo suas provocações para novas direções, utilizando “cada ferramenta disponível” para desestabilizar a região. Para analistas, a Rússia parece estar explorando a percepção de uma OTAN dividida ou hesitante, especialmente em um momento em que a aliança debate seu papel frente à guerra na Ucrânia e às mudanças políticas nos Estados Unidos.
A resposta da OTAN, até o momento, tem sido de contenção, com decolagens de caças e monitoramento reforçado, mas a pressão popular e de alguns líderes, como os que sugerem abates preventivos inspirados no exemplo turco de 2015, indica uma crescente frustração. A Turquia, ao derrubar um caça russo que violou seu espaço aéreo, estabeleceu um precedente que alguns na aliança agora consideram viável para deter Moscou. Contudo, qualquer escalada militar poderia desencadear um conflito de proporções imprevisíveis, dado o envolvimento de potências nucleares.

Uma Escalada em Curso e Seus Efeitos
O que estamos witnessing é uma escalada clara nas tensões entre a Rússia e a OTAN, com os países bálticos na linha de frente de um confronto que pode se alastrar. Para a Estônia, Lituânia e Letônia, o risco imediato é a perda de soberania e a necessidade de investimentos massivos em defesa, enquanto a OTAN enfrenta o desafio de manter sua credibilidade sem provocar uma guerra total. Para o mundo, os efeitos incluem o aumento da insegurança global, o encarecimento de commodities devido a tensões no Leste Europeu e o risco de uma nova corrida armamentista. Se não houver uma resposta coordenada e firme, o equilíbrio de poder pode ser irreversivelmente alterado, com consequências que vão além das fronteiras regionais. É hora de agir com prudência, mas com determinação.
Escrito por Moisés do Canal Pátria e Defesa, exclusivo para o Portal Código 22