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Nepo kids do Nepal: A exibição luxuosa dos filhos de autoridades nas redes sociais desencadeou uma onda de protestos em todo o país.

A exibição de luxo por parte dos filhos de autoridades nas redes sociais no Nepal desencadeou uma onda de manifestações pelo país, conforme destacado em um vídeo. O fenômeno, conhecido como “nepo kids”, ganhou destaque após autoridades locais tentarem justificar o estilo de vida opulento de seus descendentes, o que intensificou o descontentamento popular. Saiba como esse exibicionismo virtual alimentou revoltas em diversas regiões, com protestos que questionam a desigualdade e a falta de transparência no governo.

Entenda como a fúria da geração Z levou o Nepal ao caos

O Nepal presenciou, entre segunda-feira (8) e terça-feira (9), uma fulminante revolta da geração Z contra o governo, motivada pelo contraste entre a ostentação de políticos e a pobreza da população. O bloqueio de redes sociais foi visto como a gota d’água para uma revolta sem precedentes no país.

A onda de protestos que mergulhou o país no caos gerou imagens históricas na capital, Katmandu. Durante as manifestações, prédios governamentais e casas de ministros foram incendiados. Em cenas brutais, autoridades do governo foram arrastadas pela multidão e agredidas.

O foco da revolta dos manifestantes recai sobre as autoridades do país. Os nepaleses, sobretudo os mais jovens, apontam os políticos como responsáveis por atos de corrupção e os responsabilizam pela condição de miséria que predomina na maioria das regiões.

Desde a semana passada, imagens e vídeos que destacam o modo de vida privilegiado dos filhos da elite têm circulado em plataformas como o TikTok, acompanhados pela hashtag #nepokids – expressão usada na internet para designar herdeiros de vantagens.

Esses posts, que exibem filhos e netos de políticos nepaleses em viagens de luxo e usando roupas sofisticadas, indicam que os jovens em questão se beneficiaram das conexões familiares, sendo criticados como “hipócritas” em uma nação onde um a cada cinco habitantes vive na pobreza.

Dentre os conteúdos mais disseminados estão vídeos de Sayuj Parajuli, filho de um ex-presidente da Suprema Corte, posando em restaurantes refinados e junto a carros de luxo, além de fotos de Saugat Thapa, filho do ministro da Justiça, ostentando marcas como Louis Vuitton e Cartier.

“Ostentando abertamente carros e relógios de luxo nas redes sociais. Já não estamos cansados ​​deles?”, diz a legenda de um dos vídeos postados.

DESIGUALDADE

A desigualdade social é um dos principais pontos de descontentamento dos jovens nepaleses que levaram milhares de pessoas às ruas. Segundo o Banco Mundial, os 10% mais ricos ganham mais de três vezes a renda dos 40% mais pobres do país.

Um em cada cinco nepaleses vive na pobreza. Além disso, 22% dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados. O Nepal está na lista da ONU de 44 países menos desenvolvidos do mundo.

Gaurav Nepune, um dos líderes dos protestos, disse que os jovens vinham conduzindo uma campanha online havia três meses para expor o contraste entre a vida dos políticos e a das pessoas comuns.

Usuários passaram a criticar a elite nepalesa publicando fotos de filhos de políticos ostentando luxo, enquanto jovens de famílias pobres precisam deixar o país para sustentar seus parentes.

Em meio a isso, escândalos de corrupção beneficiaram políticos. A impunidade alimentou ainda mais a revolta da população.

Força da juventude: As manifestações foram fortemente organizadas por jovens da “Geração Z”. Esse é o nome popular dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2009, com algo entre 16 e 30 anos.

É a primeira geração considerada nativa digital, já que cresceu em meio à internet, smartphones e redes sociais.

Por isso, esse grupo costuma ser descrito como mais conectado, crítico e engajado em debates sobre diversidade, sustentabilidade e política, além de ter hábitos de consumo e comunicação moldados pelo ambiente digital.

A agitação popular, que resultou no incêndio da sede do governo, do Parlamento e da Suprema Corte, é a pior em décadas no país.

O país enfrenta instabilidade política e econômica desde a década de 1990, quando uma guerra civil que durou 10 anos resultou na abolição da monarquia nepalesa, em 2008.

Por ser muito recente, a democracia no Nepal ainda é considerada muito frágil.

Ainda assim, segundo o Índice de Democracia de 2025, publicado pelo V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, o Nepal é classificado como uma democracia eleitoral — no mesmo patamar de Brasil, Argentina e Polônia.

Atualmente, o país é governado pelo presidente Ram Chandra Poudel, de centro-esquerda. Já Khadga Prasad Oli, primeiro-ministro que renunciou após a escalada nos protestos, é do Partido Comunista.



Jovens nepaleses já vinham se frustrando com essas instabilidades. Milhões foram obrigados a deixar o país para trabalhar em outros lugares da Ásia e até do Oriente Médio, enviando dinheiro para suas famílias que permaneceram no Nepal.

Recentemente, o governo bloqueou 26 redes sociais alegando disseminação de fake news e falta de cooperação das big techs com a Justiça. A medida, no entanto, foi vista por ativistas como uma tentativa de silenciar o crescente movimento anticorrupção online.

O bloqueio das redes fez com que milhares de famílias perdessem o contato com jovens que estão trabalhando no exterior.

Diante deste cenário, os jovens recorreram a outras redes que continuavam disponíveis no país, como Viber e TikTok. Foram nessas plataformas que os protestos foram mobilizados.

Apenas na segunda-feira, 19 pessoas morreram nas manifestações durante confrontos. A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão.

O número de vítimas fez a situação escalar nesta terça-feira, quando novos protestos condenaram a repressão policial.

A intensidade das manifestações levou o primeiro-ministro a deixar o cargo.

O governo também revogou o bloqueio às redes.

Mesmo após a renúncia do primeiro-ministro, a escalada de violência continuou no Nepal. A população ignorou um toque de recolher imposto pelo governo e manteve os protestos durante a noite.

Casas de autoridades do país, incluindo a do premiê que renunciou, foram atacadas e queimadas.

A residência de outro ex-primeiro-ministro, Jhala Nath Khanal, também foi incendiada. A mulher dele sofreu ferimentos graves e foi levada para o hospital.

Dois aeroportos foram danificados, assim como os hotéis Hilton e Varnabas.

O aeroporto de Kathmandu, principal porta de entrada internacional do Nepal, foi fechado por causa da fumaça dos incêndios provocados pelos manifestantes. É por ele que chegam, por exemplo, os turistas que viajam para escalar o monte Everest.

Civis foram fotografados portando rifles de assalto pelas ruas da capital.

Qual é a situação atual do Nepal?

As redes sociais bloqueadas foram liberadas.

O Exército está nas ruas e há um toque de recolher nacional imposto até as 6h de amanhã (23h15 no horário de Brasília). Somente a circulação de veículos essenciais, como viaturas e ambulâncias, está autorizado na região.

Quem é o primeiro-ministro que renunciou?

KP Sharma Oli tem 73 anos e é integrante do Partido Comunista do país. Ele liderou uma série de rebeliões do movimento na juventude, chegando a passar 14 anos preso.

Editorial: Silêncio Digital, Voz nas Ruas: Lições do Nepal, França e Brasil

É estarrecedor observar como a ostentação de privilégios por parte de filhos de autoridades continua a acender revoltas globais. No Nepal, o recente bloqueio das redes sociais, uma tentativa clara de sufocar a indignação, apenas amplificou o descontentamento. Sem acesso às plataformas, a população nepalense tomou as ruas, protestando contra uma elite que exibe riqueza enquanto o povo enfrenta dificuldades.

Paralelamente, na França, nos últimos dias, os jovens se ergueram contra o governo Macron, revoltados com medidas injustas, transformando cada restrição em combustível para um movimento gigante.

No Brasil, a memória de junho de 2013 ressoa como um eco poderoso. Naquele momento, milhares de jovens saíram às ruas, furiosos com o aumento da tarifa de ônibus. A pressão foi tanta que governadores e prefeitos cederam, reduzindo os valores. Contudo, “elas já não eram a única pauta: a insatisfação se virou para os gastos com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, as denúncias de corrupção na política e o governo de Dilma Rousseff (PT)”. O que começou como uma reclamação local evoluiu para um grito nacional contra a má administração e a corrupção sistêmica.

Esses paralelos entre Nepal, França e Brasil de 2013 revelam uma verdade universal: quando o povo é silenciado ou ignorado, ele encontra nas ruas a força para se fazer ouvir. Os cortes de redes no Nepal, as mobilizações na França e o levante brasileiro mostram que a juventude, quando pressionada, não recua. É um chamado urgente aos governantes: a ostentação e o descaso têm um limite, e a paciência popular, quando esgotada, explode em ação. Que os líderes de hoje aprendam com essas lições antes que o próximo estopim seja inevitável.

Editorial escrito por Moisés do Canal Pátria e Defesa Exclusivo para o Portal O Código 22

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