O imenso desfile militar no centro de Pequim nesta quarta-feira (3) foi uma demonstração deliberadamente imponente de armamentos, projetada para transmitir a mensagem de que a visão de Xi Jinping de uma nova ordem mundial com a China no topo será respaldada por armas de alta tecnologia que, em muitos casos, parecem estar à frente dos rivais.
Embora grande parte da atenção pós-desfile se concentre em novas armas nucleares de longo alcance — como o míssil balístico intercontinental DF-61 — o que pode ser ainda mais importante a longo prazo são armas como os novos sistemas de defesa aérea laser móveis montados em caminhões e navios.
Se estes já estiverem implantados em grande número nas forças do ELP (Exército de Libertação Popular), como a China indicou em coletivas de imprensa pré-desfile, eles poderiam apresentar problemas reais para qualquer adversário tentar conter os movimentos militares chineses na região.
Mas há ressalvas, e ainda não é hora de considerar o ELP como a força militar mais proeminente do mundo.
Destaques dos desfile
O ELP exibiu uma quantidade notável de equipamentos pela avenida mais famosa de Pequim, a Avenida da Paz Eterna — tanto que era difícil focar em uma arma antes que a próxima passasse.
Mas alguns certamente se destacaram, incluindo o DF-61, um enorme míssil balístico intercontinental (ICBM) transportado em um caminhão de oito eixos que seria o primeiro novo ICBM da Força de Foguetes do ELP desde que o DF-41 foi introduzido em um desfile militar em 2019.
Os HGVs podem transportar ogivas com velocidades cinco vezes superiores à do som em trajetórias de voo irregulares que podem confundir as defesas antimísseis.
Uma impressionante variedade de drones também estava em exibição, desde submarinos não tripulados extra grandes até aeronaves que podem voar como “companheiros leais” junto aos caças furtivos de última geração da Força Aérea do ELP.
Drones terrestres, alguns armados com metralhadoras, outros adequados para limpeza de minas ou logística, também estavam nas formações.
O ELP mostrou duas versões, uma massiva projetada para defesa aérea naval, outra que parecia menor e montada em caminhão para proteger tropas em terra.
Os lasers estão entre uma classe chamada “armas de energia dirigida”, que também podem incluir sistemas de micro-ondas de alta potência.
Em vez de usar projéteis para uma eliminação cinética, essas armas dependem de energia eletromagnética para desabilitar um alvo através do calor, interrupção de sistemas elétricos internos ou cegamento de sensores como óptica e radar.
Armas de energia dirigida são mais econômicas que armas cinéticas, com um disparo de laser custando apenas uma fração de uma bala ou míssil. A logística também é mais fácil, pois projéteis metálicos pesados não precisam viajar com a arma, apenas a fonte de energia.
Xi Jinping propõe nova ordem global em cúpula da SCO com Putin e Modi
O presidente da China, Xi Jinping, defendeu nesta segunda-feira (1º), durante a cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (SCO), em Tianjin, a criação de uma nova estrutura de governança global. A proposta foi apresentada como uma iniciativa para “construir um sistema mais justo e racional”, em resposta ao que ele descreveu como um cenário internacional marcado por “novas ameaças e desafios” 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
“Precisamos continuar a nos posicionar claramente contra o hegemonismo e a política de poder, e praticar o verdadeiro multilateralismo”, disse Xi, em um ataque velado aos EUA e às políticas tarifárias do presidente Donald Trump.
“A governança global chegou a uma nova encruzilhada”, acrescentou.
Um contraponto ao eixo ocidental
No encontro, Xi destacou que a governança mundial vive uma “nova encruzilhada”, em meio a turbulências geopolíticas e econômicas. Ao lado do presidente russo, Vladimir Putin, e do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o líder chinês reforçou o discurso de multipolaridade, defendendo igualdade soberana entre os países, respeito à Carta da ONU e fortalecimento do multilateralismo.
A imagem mais simbólica da cúpula ocorreu na chegada de Putin e Modi, que se cumprimentaram de mãos dadas antes de encontrar Xi, gesto interpretado como sinal de aproximação entre Rússia e China e, ao mesmo tempo, da tentativa da Índia de manter interlocução fora do eixo ocidental liderado pelos Estados Unidos.
Declarações da cúpula
Na chamada Declaração de Tianjin, assinada ao final do encontro, os países-membros da SCO afirmaram que o mundo atravessa “mudanças profundas e históricas” e defenderam um “novo tipo de relações internacionais”, com base em respeito mútuo, equidade, justiça e cooperação.
O documento também incluiu referência direta à memória da Segunda Guerra Mundial: “Condenamos veementemente qualquer tentativa de distorcer o significado da vitória na guerra e o papel do povo dos países-membros da SCO na derrota do fascismo e do militarismo. Enfatizamos que os crimes contra a humanidade nunca serão esquecidos”, diz o texto.
Expansão econômica e institucional
Xi Jinping anunciou ainda medidas para fortalecer a atuação econômica e de segurança da SCO, que já reúne 26 países e representa quase US$ 30 trilhões em economia agregada. Entre os projetos, está a criação de um banco de desenvolvimento para apoiar investimentos e a ampliação da cooperação em áreas como energia e inteligência artificial.
Dois novos órgãos também devem ser implementados: um centro de monitoramento de ameaças à segurança e outro voltado ao combate às drogas. O objetivo, segundo Xi, é tornar a organização “mais pragmática e eficiente”, com processos de decisão mais ágeis.
Índia em destaque
A participação do primeiro-ministro Narendra Modi chamou atenção, especialmente após os Estados Unidos anunciarem tarifas de 50% sobre produtos indianos dias antes do encontro. A aproximação da Índia com a SCO reforça o movimento de diversificação das suas alianças estratégicas.
Criada em 2001 por China, Rússia e países da Ásia Central, a SCO se apresenta como um espaço de cooperação regional, mas com crescente peso político e econômico no cenário internacional. Embora evite se declarar como bloco de oposição aos EUA, Xi foi direto ao afirmar que a entidade rejeita “a mentalidade de Guerra Fria e as práticas de intimidação”.