O assassinato de Ruy Ferraz Fontes, ocorrido na segunda-feira (15), em Praia Grande, no litoral de São Paulo, chocou autoridades e a sociedade. O ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista foi vítima de uma emboscada violenta, que expõe os riscos enfrentados por quem dedicou décadas ao combate ao crime organizado. Abaixo, recontamos os fatos com base nas informações disponíveis, destacando sua trajetória, os motivos para o ataque e os detalhes conhecidos da ação criminosa.
Derreite comentou o caso que Chamou de Terrorismo:
Detalhes do Crime: O Que Se Sabe Até Agora
O homicídio ocorreu por volta das 18h na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, no bairro Nova Mirim, a cerca de 650 metros do Paço Municipal de Praia Grande. Fontes havia saído momentos antes da Prefeitura, onde cumpria agenda como secretário, e dirigia seu veículo particular pela região. Câmeras de segurança capturaram a perseguição, que começou em ruas adjacentes, como a Rua Primeiro de Janeiro e a José Borges Neto, próximas à Secretaria de Educação (Seduc).
De acordo com a cronologia reconstruída pelas autoridades:
– Início da perseguição: Criminosos em uma caminhonete iniciaram o acompanhamento do carro de Fontes em vias paralelas à avenida principal. Vestígios de disparos foram encontrados na área, indicando que os tiros começaram antes da colisão final.

– Emboscada e colisão: Enquanto tentava acessar a Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, o veículo de Fontes foi alvejado, possivelmente levando-o a perder o controle. O carro colidiu frontalmente com um ônibus e capotou. Informações preliminares da Polícia Militar sugerem que os tiros iniciais causaram a perda de direção, mas perícias em andamento confirmarão isso.
Dias antes de ser executado, ex-delegado disse que vivia sem proteção, ouça:

– Execução: Três atiradores, armados com fuzis, desceram da caminhonete que os transportava e efetuaram rajadas contra o ex-delegado, que morreu no local. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou o óbito imediatamente.

– Consequências colaterais: Dois pedestres – um homem e uma mulher – foram feridos pelos disparos. Eles receberam atendimento inicial na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude e foram transferidos para o Hospital Municipal Irmã Dulce, onde se recuperam sem risco de vida.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) e a Prefeitura de Praia Grande emitiram notas de pesar, destacando a perda de um profissional exemplar. Investigações estão em curso para identificar os envolvidos, com foco na possível ligação com o PCC, embora não haja confirmação oficial até o momento.

Armas, Veículos e Intensidade do Ataque

Os criminosos portavam fuzis de grosso calibre, armas típicas de ações de facções para garantir letalidade e intimidação. A quantidade exata de tiros ainda não foi divulgada pelas autoridades, mas as imagens e vestígios indicam uma troca intensa de fogo, suficiente para causar a colisão e a morte imediata. Os veículos envolvidos foram o carro particular de Fontes (modelo não especificado nas informações iniciais) e uma caminhonete usada pelos agressores para a fuga e abordagem, que facilitou a perseguição rápida pela via movimentada.

Esse crime reforça a urgência de medidas de proteção a ex-autoridades e o fortalecimento das investigações contra o crime organizado, em um contexto de ressurgimento de ações ousadas de facções como o PCC. As apurações prosseguem para trazer justiça ao caso.

Quem Era Ruy Ferraz Fontes e Sua Trajetória Profissional

Ruy Ferraz Fontes era um veterano da Polícia Civil de São Paulo, com mais de 40 anos de serviço dedicado à investigação e repressão de atividades ilícitas. Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo e com especialização em Direito Civil, ele acumulou uma carreira marcada por cargos de liderança estratégica. Entre 2019 e 2022, ocupou o posto de delegado-geral do estado, período em que coordenou ações decisivas contra facções criminosas. Antes disso, comandou unidades chave como o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Seu início na corporação incluiu passagens pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), reforçando sua expertise em crimes violentos.
Fontes se destacou como pioneiro nas operações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), especialmente nos anos 2000. Como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos no Deic, ele foi um dos primeiros a mapear a estrutura da organização, resultando na captura de vários de seus líderes proeminentes. Sua atuação foi crucial durante os ataques coordenados de maio de 2006, quando o PCC paralisou o estado com rebeliões e atentados. Mais recentemente, em seu mandato como delegado-geral, ele supervisionou a remoção de chefes da facção para presídios federais de segurança máxima, medida que enfraqueceu significativamente o comando interno do grupo. Além das operações de campo, Fontes aprimorou sua formação com cursos no Brasil, na França e no Canadá, e lecionou disciplinas como Criminologia e Direito Processual Penal. Aposentado desde 2022, desde janeiro de 2023, ele exercia o cargo de Secretário de Administração na Prefeitura de Praia Grande, onde foi vítima do crime.
Por Que Ele Foi Alvo do Crime Organizado
A longa história de confrontos diretos com o PCC torna Fontes um símbolo de resistência ao crime organizado, o que provavelmente o colocou na mira da facção. Suas investigações iniciais nos anos 2000 desmantelaram redes iniciais do grupo, com prisões que atingiram o alto escalão. A coordenação das transferências de líderes como Marcola para presídios federais em 2019 foi um golpe duro à hierarquia do PCC, limitando sua capacidade de coordenação externa. Especialistas apontam que ações como essas geram vinganças de longo prazo, e o perfil de Fontes – um ícone da Polícia Civil – amplifica o impacto simbólico de um ataque contra ele, servindo como mensagem de retaliação e demonstração de poder.